A ideia deste blog surgiu quando eu vi num supermercado um abacaxi tipo "exportação" em promoção, com embalagem e rótulo. Ao lado dele um outro abacaxi sem as indicações de qualidades especiais para comercialização no exterior, bem melhores em qualidade dos que são consumidos no Brasil. E nós aceitamos isso passivamente, como se fosse "natural". Outros assuntos poderão ser publicados, enfatizando sempre aspectos que merecem nossa atenção, e que passam despercebidos em nosso dia-a-dia.
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
TEXTO INTERESSANTE
A QUARTA GERAÇÃO DA GUERRA E OS DESAFIOS DO PRESENTE
POR PET/POL
15/11/2011 MATHEUS BORÉMO
Em outubro de 1989, William S. Lind, Keith
Nightengale, Joseph Sutton, Gary Wilson e John Schmitt divulgaram nas revistas
Marine Corps Gazette e Military Review uma série de artigos nos quais expunham
um novo conceito, a saber, o conceito de “guerra de quarta geração” (fourth
generation warfare – 4GW). Segundo esses autores, as guerras tenderão a ser
travadas cada vez em um nível menos formal, envolvendo grupos baseados em
unidades reduzidas, com grande independência operacional e desvinculados de um
aparato estatal específico. Esse conceito exposto em 1989 não poderia deixar de
ser considerado com maior seriedade nos dias de hoje, onde guerras
interestatais são cada vez mais escassas, as forças armadas necessitam
enfrentar inimigos de difícil definição prática e frequentemente se veem
envolvidas em operações de contra insurgência. Nesse sentido, esse texto busca
delinear de maneira muito breve a necessidade de maior implementação de meios
não cinéticos (programa de empregos, serviços de educação,etc) e uma maior
confluência entre os meios cinéticos (armas, instrumentos explosivos, tropas,
etc) e não cinéticos. Em um segundo momento, o texto tratará da incorporação
estratégica de um meio não cinético específico, a saber, as mídias sociais.
Meios Não-Cinéticos
O contexto do campo de batalha atual está
relacionado ao fracasso da utilização majoritária dos meios cinéticos em
detrimento dos demais meios. Um exemplo é a ocupação do Iraque. A vitória dos
EUA e aliados na operação Iraqi Freedom se perdeu em meio ao caos, ao
terrorismo e ascensão de diversos grupos insurgentes no momento posterior a
queda do regime de Saddam Hussein. A estratégia americana para a região pedia
ações rápidas e o povo dos EUA, assim como seu sistema político, não costumam
estar dispostos a manter uma guerra durante longos períodos de tempo. Isso
significa que durante boa parte da ocupação, as forças armadas ocupantes
mantiveram uma forte tendência à utilização de meios cinéticos, que promovem,
aparentemente, resultados melhores em curto prazo.
Nesse sentido, o então comandante
americano para o Oriente Médio, o General David Petraeus publicou em 2008 um
artigo onde ele enfatizou os diversos níveis de atuação necessários em uma
estratégia de contra insurgência. Segundo ele, os meios cinéticos deveriam ser
complementados por meios políticos, serviços de inteligência, atuação entre
agencias, etc. A estratégia de Petraeus era baseada numa atuação de longo
prazo, onde os interesses da população iraquiana precisavam ser levados em
consideração com o intuito de se atingir os resultados militares esperados.
As diretrizes de Petraeus foram
implementadas no Iraque e surtiram um considerável efeito positivo no sentido
de estabilização do país. Isso demonstra, tendo o caso iraquiano como modelo,
tanto a ineficácia de estratégias que exploram de maneira demasiada os meios
cinéticos, quanto o sucesso de estratégias que buscam a confluência entre os
diversos meios.
De qualquer forma, o mais importante a se
ter em mente é que a mudança das formas da guerra de uma estrutura mais rígida
e relacionada ao Estado de tipo clausewitziana, para uma estrutura menos rígida
relacionada ao conceito de 4GW, faz com que seja cada vez mais necessária uma
atuação ampla das forças armadas no sentido de garantir a segurança nas regiões
conquistadas e impedir a proliferação de células e sentimentos de cunho
terrorista. Assim, um dos aspectos que podem ser pensados nesse sentido é como
as mídias sociais podem ser incorporadas nesse entendimento.
Mídias Sociais – Um exemplo de utilização
de meio não cinético
Como já foi anunciado, um importante
elemento a ser considerado para se atingir um ambiente estratégico desejável é
o das mídias sociais. As mídias sociais assumem no contexto atual um papel de
enorme importância. Isso se evidencia pelos usos que foram feitos dessas redes
como meios de organização de protestos, divulgação de informações sigilosas,
etc.
Com isso em mente, vale relembrar o artigo
do General Petraeus anteriormente mencionado. Um dos principais argumentos de
Petraeus é que o comandante precisa estar em contato com as pessoas, ou seja,
ele precisa “entender a vizinhança” e “viver no meio do povo”.
Nesse sentido, as mídias sociais possuem
um grande papel desempenhar. Em um artigo publicado na Military Review de Julho-Agosto
de 2011, o Coronel Thomas Mayfield III argumenta que as mídias sociais devem
ser incorporadas no modus operandi das forças armadas por meio da perseguição
de três fins ou objetivos principais.
O primeiro desses fins se relaciona a “uma
compreensão maior do ambiente, ou melhor consciência situacional, mediante o
uso eficaz das mídias sociais.” (Mayfield III, 2011, 31). Esse fim já vem sendo
implementado em alguma medida pelo Departamento de Estado dos EUA, por
embaixadas do mesmo país e outras organizações. No caso do campo de batalha
mais especificamente, Mayfield argumenta que os comandantes poderiam se
antecipar a eventuais ofensas por parte de grupos inimigos dentro de sua área
de responsabilidade.
O segundo objetivo seria “ajudar o comando
a fornecer informações públicas melhores, mais ágeis e mais confiáveis na área
de responsabilidade (tanto as comunicações estratégicas quanto as informações
locais ou táticas.)” (Mayfield III, 2011, 32). Esse ponto se relaciona
diretamente com o conceito de “guerra de informações” onde as mídias
desempenham um papel fundamental na mobilização da população a favor de um
empreendimento militar. Segundo Petraeus, é importante que se procure ser o
“primeiro a apresentar a verdade”. É necessário que importantes informações
sejam repassadas para aliados e imprensa o mais rápido possível, no sentido de
que a busca por legitimidade possa ser atingida. Assim, o segundo objetivo
relacionado às mídias sociais desempenharia um papel onde os comandantes
poderiam “estabelecer a ‘pauta’, por serem os primeiros a expor a verdade”
(Mayfield III, 2011, 32), definindo dessa maneira o campo de batalha
psicológico, mas também material, a seu favor.
O terceiro objetivo exposto por Mayfield
seria “o aumento da unidade de esforço.” (Mayfield III, 2011, 32) Isso se
relaciona com a necessidade de que todas as organizações envolvidas no conflito
em questão possam trabalhar em conjunto rumo a um objetivo comum. Essa
integração, no entanto, ocorre de maneira imperfeita e envolve muitas dificuldades.
Uma maneira de reduzir essas dificuldades seria por meio das mídias sociais.
Afinal, como já foi demonstrado por grupos de protesto no Oriente Médio e pelo
exército Israelense na operação Cast Lead, por exemplo; existe um potencial
real para aumentar a unidade e a coordenação por meio das mídias sociais.
Ainda assim, apesar de todos os benefícios
aparentes relacionados ao uso das mídias sociais de maneira estratégica
relacionada à vitória no campo de batalha, existe ao menos um problema importante
a ser considerado: a fragilidade da internet do ponto de vista da segurança. O
ataque de hackers profissionais ou amadores, a serviço de países ou atuando de
maneira individual, poderia tornar a inclusão das mídias sociais algo instável.
Afinal, esse novo meio estratégico poderia facilitar a inclusão de contra
informação nas atividades cibernéticas. Além disso, erros poderiam ocorrer e
informações que deveriam permanecer secretas poderiam ser divulgadas. Essas
questões se relacionam, na verdade, com uma discussão mais ampla e, creio eu,
de maior importância, que é a própria internet e seu papel em cenários
estratégicos amplos e reduzidos. Assim, não vou me aprofundar nesse ponto.
Conclusão
O objetivo desse texto foi simplório. Nele
buscou-se a exposição do conceito de guerra de quarta geração e como esse
conceito se relaciona aos eventos da guerra moderna, tendo como exemplo o caso
da ocupação iraquiana por forças dos EUA e aliados. Tendo apresentado essa
questão, foi proposto que a simples utilização de meios cinéticos não é
suficiente para o campo de batalha atual e que é necessária uma estratégia mais
ampla, utilizando recursos diversos para se atingir a verdadeira vitória no
campo de batalha. Por fim, a título de exemplificação mais prática de como
esses meios menos tradicionais podem ser incorporados, foi apresentada a
problemática do papel que as mídias sociais podem representar para as forças
armadas e como elas deveriam ser apreendidas, segundo Mayfield III.
Bibliografia
MAYFIELD III, Thomas D. Uma Estratégia do
Comandante para as Mídias Sociais. Military Review. Forte Leavenworth, Kansas.
Pag. 29-37, Julho-Agosto de 2011.
PETRAEUS, David H. Multi-Nacional
Force-Iraq Commander`s Counterinsurgency Guidance. Military Review Online. Disponível
em:http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20081031_art004.pdf
VISACRO, Alessandro. Guerra Irregular:
terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São
Paulo: Editora Contexto, 2009.
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